Tuesday, December 19, 2006

Texto tirado do livro "Gaviões da Fiel - futebol, carnaval e identidade", autoras Mailu Teixeira Cardoso e Thaís Argôllo Coutinho

Lealdade, Humildade e Procedimento

Historicamente, jogo de Corinthians é sinônimo de estádio lotado, principalmente quando se trata do Pacaembu. Esteja o time uma fase boa ou ruim, os torcedores comparecem para apoiar, como aconteceu durante anos de jejum, época em que a torcida corinthiana mais cresceu. Como diz o compositor Toquinho, em sua canção "Corinthians do Meu Coração", "ser corinthiano é ir além de ser ou não ser o primeiro". Para os Gavões não é diferente.
Durante os noventa minutos de partida, uma única voz parece ecoar do lado corinthiano, na arquibancada do portão principal. Para quem vê de fora, o coro de milhares de tocedores é uníssono e dá a impressão de ter sido incansavelmente ensaiado. Durante todo o tempo a cantoria e as palmas parecem ininterruptas.
Sou maloqueiro
Sou maloqueiro
Corinthiano e sofredor
Graças a Deus!
Entre tantos hinos cantados durante os jogos, esse parece ser o que melhor define um Gavião.
Na torcida organizada, a transmissão da tradição, da historia e do sentimento de amor ao Corinthians aos novatos que decidem frequentar a quadra fica principalmente a cargo do Departamento de Bandeiras, localizado em uma das laterais da quadra, onde também são guardadas as dezenas de faixas e bandeiras dos Gaviões, entre elas um medindo 192 x 40 metros (7680 m2). E lá que os jovens aprendem também a valorizar o lema L.H.P.
Alex Sandro Gomes, o Minduim, de 28 anos, sócio n. 14.044, foi um dos que passaram po lá. Filho de pai angolano e mãe italiana, hoje professor e estudante de História da Pontifíca Universidade Católica de São Paulo (Puc-SP), ele é diretor do Departamento Social, Cultural e de Comunicação dos Gaviões e está na torcida desde 7 de serembro de 1989. O apelido, já abreviado para Mindu, se deve à semelhança de sua cabeça careca com a do personagem Charlie Brown, dos quadrinhos do Snoopy, também conhecido como Minduim no Brasil.
Para ele, que anda quase sempre vestido com calça, paletó e uma das suas camisas sociais bordadas com a abreviação L.H.P. no bolso - que escondem por baixoima tatuagem com a mesma sigla, outra um símbolo do Corinthians e uma terceira, de um gavião - a conduta dos membros do grêmio, principalmente das lideranças, deve sempre condizer com a ideologia e os valores dos Gaviões. Por isso a importância do Departamento de Bandeiras. "É o lugar que inicia todas as gerações e as futuras lideranças, onde o jovem vai aprender o valor de ter e dobrar uma bandeira, de auxiliar a torcida, levar o bandeirão, pegar os instrumentos, aprender e fazer música, ver como funciona parte administrativa, respeitar a hierarquia dentros dos Gaviões. Isso sem que deixe de entender o porquê de agirmos do jeito que agimos, das nossas decisões", diz.
Mindu ressalta que o departamento tem também uma função social. "Ele cria o sentimento de companheirismo, ensina qual o valor que o teu amigo tem. Aqui não tem um colega, aqui tem uma amigo, que vai defender a tua vida por você e você vai defender a dele por ele em qualquer tipo de situação, seja com a Policia MIlitar seja com outras torcidas organizadas, seja em algum tipo de ação contra a nossa entidade.
(Nos meses de Dezembro e Janeiro - estaremos inserindo aqui partes do livro "Gaviões da Fiel - futebol, carnaval e indentidade" - Projeto experimental de Mailu Cardoso e Thaís Coutinho)